Onde nos leva este rude e deserto sertão
Se o que queremos é a pujança do litoral
Onde nos leva esta água ardente, salobra, insana tubulação
Se o que queremos é o saneamento das consciências
Onde nos leva este labirinto de celulose pútrida
Se o que queremos é o fio de Ariadne
Onde nos leva este louco girar de roleta russa
Se o que queremos são as alegres vertigens do carrossel
Para onde nos leva este chumbo negro
Se o que queremos são as plumas do pavão
Para onde nos leva este aborto
Se o que queremos são jardins de infância
Para onde nos leva este sal de lágrimas
Se o que queremos é a alegria do algodão doce
Onde nos leva esta masmorra
Se o que queremos é a liberdade dos cimos
Onde nos levam estas noites negras
Se queremos as cores das borboletas
Onde nos levam estas trancas e cadeados
Se o que queremos é a liberdade das passarelas
Para onde nos leva a majestade avareza
Se o que queremos é a plebéia doação
Para onde nos leva o pão dormido da mesquinharia
Se o que queremos são os sabores da divisão
Onde nos leva o sangue das lutas de classes
Se o que queremos é a cerveja das mesas de bar
Onde nos leva a fria lâmina da concorrência
Se o que queremos é o calor das igualdades
Onde nos leva este cotidiano de sol a nascer e se pôr
De mar a encher e vazar
De satélites a nos rodear
De gentes a chegar e partir
De bocas a murmurar e sorrir
De ruas a se estender
De muros a delinear
De sexo a reproduzir
De sonhos a nos conduzir
Do falso a nos enganar
De festas a nos balançar
De Chicos a nos encantar
De dietas a recomeçar...
A que mar nos leva o barco em nossa alma...
e de que madeira é feito?
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