quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
sábado, 23 de fevereiro de 2013
domingo, 3 de fevereiro de 2013
De Crianças e Borboletas ao Vento
Aos seis
anos toda menina é princesa, fada, sereia ou estrela. Capaz de romper
barreiras, dar voltas ao mundo enfrentando os mais temíveis vilões sorrindo ao
fazê-lo. Eu tive seis anos e um coração ingênuo e generoso, ordinário a todos
nessa idade.
Minha
memória é bastante peculiar. Dizem-na extraordinária arrancando-me risos. Pois,
para mim, todos trazem consigo as suas mais marcantes lembranças. Aquelas que avultam-se
na alma.
A
imaginação de uma criança é incomensurávelmente fértil. Àquela época, eu
acreditava que as árvores do nosso Vale sentiam frio, quando “depenadas” pelo
vento. No outono eu lamentava as folhas caídas, por acreditar que as árvores
sofriam por estas perdas. Muitas vezes ao perceber uma leve brisa agitar os
galhos eu chorava, corria para os braços da minha avó aos prantos. Exigia dela
uma solução urgente para o porvir, pois sempre depois das brisas seguiam-se
tempestades e árvores nuas.
Não
adiantavam as explicações dos meus avós sobre “a renovação da natureza e da
vida”, pois lá estavam as minhas árvores amigas, todas nuas, com frio e a
“culpa” era do vento.
Entretanto,
houve uma tarde de domingo em que o vento fez-se amigo. Foi quando o meu pai
levou-me a mim, minha irmã Jas e meu irmão José em visita à casa de um conhecido
da família. Era um senhor áspero com as palavras e seu timbre estava sempre
acima dos demais. Usava roupas escuras e um chapéu medonho. Seu nome: Sr. Sven.
Mesmo apavorados, pois temíamos àquele senhor, eu e meus irmãos lá estávamos acompanhando nosso pai. Parados diante da porta do “velho da capa”, desejávamos que esta permanecesse trancada e pudéssemos voltar para casa onde estaríamos protegidos. Mas não aconteceu, o velho surgiu sorridente, cumprimentou o meu pai e nos convidou a entrar.
Mesmo apavorados, pois temíamos àquele senhor, eu e meus irmãos lá estávamos acompanhando nosso pai. Parados diante da porta do “velho da capa”, desejávamos que esta permanecesse trancada e pudéssemos voltar para casa onde estaríamos protegidos. Mas não aconteceu, o velho surgiu sorridente, cumprimentou o meu pai e nos convidou a entrar.
Fomos
saindo, um a um, como se não quiséssemos levantar suspeitas sobre nossas ações,
caminhamos para fora da casa e respiramos aliviados. Estávamos livres dos
“gritos” e da imagem daquela figura ímpar. Percebemos uma porta aberta, na
lateral da casa e, depois de uma longa discussão, resolvemos investigar o que
ele fazia, cheios de medo adentramos, mais uma vez, na casa velha e mofada. Ouvíamos sons de pássaros e uma música tocada ao longe, olhamo-nos e cheios de
cumplicidade, subimos a escadaria de madeira que levava ao sótão.
O
José desistiu na metade do caminho, por ser o mais velho levaria toda a culpa
da intromissão e invasão da propriedade alheia, decerto, meu pai dar-lhe-ia
castigo merecido por colocar-nos, a minha irmã e eu, em perigo. Contudo, para nós,
o perigo, naquele momento rodeava o nosso pai, por estar tão próximo do Velho
da Capa, comedor de gente e animais. Quando chegamos à porta do sótão, respiramos fundo e entramos, fácil assim. A
visão daquele momento é, até hoje, a cena mais impressionante que já vivi. O cheiro forte, a penumbra, as
janelas cerradas, uma pequena escrivaninha, estantes de madeira escura
atulhadas de objetos nunca dantes vistos por nós, uma mesa enorme e sobre esta,
muitos livros e frascos com insetos “moooortos...”.
No canto,
um piano tocando sozinho, como se orquestrado por um fantasma. As notas eram
agudas e frias como aquela tarde de Outono. A Jas ameaçou entoar um grito e eu
abracei-a forte dizendo-lhe “eu protejo-te”. Corri até a janela e consegui
afastar as cortinas, permitindo a entrada de um pouco de luz. Quando olhei para
o interior da sala, agora mais iluminado e vi todas aquelas borboletas
aprisionadas, o grito partiu de mim.
Muitas estavam mortas, ressecadas, cravadas por pequenos “pregos” sobre pedaços de madeira bem finos. Outras flutuavam em frascos cheios de um líquido que fazia os meus olhos arderem. A Jas chamou-me baixinho e apontou uma pequena gaiola onde muitas borboletas esvoaçavam desesperadas.
Muitas estavam mortas, ressecadas, cravadas por pequenos “pregos” sobre pedaços de madeira bem finos. Outras flutuavam em frascos cheios de um líquido que fazia os meus olhos arderem. A Jas chamou-me baixinho e apontou uma pequena gaiola onde muitas borboletas esvoaçavam desesperadas.
Não
pensei, por instinto de liberdade que sempre habitou a minh’alma, abri a gaiola
e as borboletas espalharam-se pelo sótão. Corremos para a janela e com muito
esforço conseguimos abri-la... Ahhh….esta lembrança traz-me um sorriso à alma…
As borboletas voavam em direção à luz, havia uma leve brisa que aos poucos transformava-se em um vento mais forte que ajudava-lhes no vôo, era o fim do cativeiro. Estavam todas livres e nós sorríamos felizes.
As borboletas voavam em direção à luz, havia uma leve brisa que aos poucos transformava-se em um vento mais forte que ajudava-lhes no vôo, era o fim do cativeiro. Estavam todas livres e nós sorríamos felizes.
Descemos
a escadaria em velocidade assustadora correndo para o jardim. olhávamos para o
alto e víamos borboletas espalhando-se por todos os cantos. O José juntou-se a
nós a sorrir, pular e aplaudir o evento que batizamos de A Fuga das Borboletas.
Naquela ocasião o vento tornara-se meu amigo.
Não tenho lembrança de um castigo severo por termos cometido tamanha infração. Ouvi da minha avó que nós éramos crianças valentes e ganhamos doces, cookies e chocolates. E eu sorria feliz ao ouvir meu pai dizendo-me a mim que “Isso tudo só pode ser ideia sua, Isabelle.” Ele estava certo.
Com o tempo a minha família e alguns amigos chamaram-me a mim de Farfalla. Sempre sorrio, em minh’alma por lembrar-me daquele tarde.
Não tenho lembrança de um castigo severo por termos cometido tamanha infração. Ouvi da minha avó que nós éramos crianças valentes e ganhamos doces, cookies e chocolates. E eu sorria feliz ao ouvir meu pai dizendo-me a mim que “Isso tudo só pode ser ideia sua, Isabelle.” Ele estava certo.
Com o tempo a minha família e alguns amigos chamaram-me a mim de Farfalla. Sempre sorrio, em minh’alma por lembrar-me daquele tarde.
Texto | Isabelle Aragon
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