Aos poucos eles chegam ao endereço previamente combinado, em grupos, em silêncio, sem baderna, calmos, centrados. Mas chegam muito bem armados com seus celulares, câmeras digitais, notebooks, cartazes, faixas e bandeiras e apitos e nariz de palhaços – que apenas fingem ser. Logo, o movimento todo estará na rede, espalhando-se pelo mundo, tomando ares de reforma, tomando as dores de todo um povo que não está habituado a revoltar-se.
Aos poucos vão tomando conta da calçada e a cada sinal vermelho, avançam para a rua. Ao sinal verde, recuam para a calçada... vermelho, rua... verde, calçada. Assim é feito o aquecimento para a marcha. Quando aquecidos, não há mais sinal verde que os faça voltar para a calçada. Agora o asfalto está dominado. Em ação, eles gritam e pulam. Sentam-se na avenida, param o trânsito. É impossível não os ver. Eles não discriminam-se, misturam-se e aceitam-se sem preconceitos e sem cobranças. Sabem falar, sabem ouvir e, principalmente, sabem fazer-se ouvir.
Eles são jovens, bonitos e inteligentes. São determinados e destemidos. São calmos na calma necessária para conseguirem seus objetivos. São anônimos, desconhecidos. Mas são pessoas incomuns. No íntimo, lá no fundo, cada pessoa que passa aplaudindo, incentivando, buzinando, ignorando, reclamando, cada um que passa (ou está tentando passar) gostaria de ser um deles.
Eles dominam a comunicação eletrônica e fazem disso sua grande arma. Eles fazem a sua própria mídia com rapidez e eficiência (muitas vezes em tempo real), e estão sempre um passo à frente da mídia tradicional.
Eles são bem-humorados e comprometidos. Abriram mão de alguns prazeres da juventude para mudarem os rumos da política na cidade e fizeram história montando acampamento por 11 dias no pátio da Câmara Municipal de Natal. Com isso, ganharam parceiros, fãs, críticos, admiradores e lógico, inimigos. Eles foram chamados de palhaços, marionetes, fantoches; de desocupados; vagabundos; maconheiros; loucos; utópicos; pseudos-advogados; revolucionários...
Para manter a causa, eles arrecadaram dinheiro passando chapéu e deram entrevistas com tanta naturalidade como se já fizessem isso há anos. Eles não são esnobes, nem arrogantes. São centrados. Tem foco e fôlego, muito fôlego.
Eles fazem música, fazem faxina e fazem pensar. Levaram cultura para dentro de uma Câmara velha e mofada, esta sim, esnobe e pedante, viciada em jogos de poder. Eles colocaram os conceitos antigos em xeque. Eles deram um choque de realidade em toda uma cidade e eu confesso: estou chocado! Confesso mais: eu não sabia que nesta cidade havia tanta gente inteligente e interessante.
Eles causaram um terremoto íntimo na alma de cada pessoa que não esteja acampado na indiferença, na mentira, no descaso, na inércia.
Eles dormiram no chão durante os 11 dias de acampamento, mas conseguiram tirar o sono da prefeita e seus vereadores pelos próximos meses. Tenho certeza que alguns vereadores estão pensando que o twitter e a chave para ganhar a próxima eleição, mas logo aviso: ponha um idiota e um computador cara a cara e observe o que sairá.
O acampamento acabou deixando a CMN sitiada. Os vereadores da Prefeita Micarla estão cercados. Todas as atenções estão voltadas para lá e nós todos estamos vigilantes.
E para terminar: quem não pula, quer Micarla!
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