domingo, 30 de janeiro de 2011

O Amor dos Loucos | Marta

Marta dorme na praia onde deixou-se cair como âncora
Para sonhar-se Sereia.

Sua cama são os barcos emborcados
Sua casa não tem paredes nem telhados.

Todos os dias Marta acorda morta de amores pelo mar
Acorda com sargaços nos cabelos
E hálito de sal...

E de conversa com o dia ela corre a praia
Vai colecionando ostras e búzios que são suas joias
Seus brincos são anzóis
E redes de pesca, seus lençóis
A espuma das ondas são suas bóias.

Se é noite,
Pondo fogo a remos
Faz fogueiras

Se tem fome
Come o que o vento arrasta

Concreto e asfalto são seus ais.

Marta não quer mais
Pisar o negro chão da cidade
Marta é mulher de idade
De saber o que quer.

Marta quer amar arrastões
Quer namorar navios
Quer marinas e pessoas marítimas
Quer peixes e paixões e naufrágios.

Todo bom dia
Marta dorme e acorda na maresia
Inundada, afogada em sua liberdade.

Quem pode entender Marta
E sua pouca lucidez?

Tão dona de si,
Lá da praia Marta grita:
"loucos são vocês!"
 
 
*

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