Para sonhar-se Sereia.
Sua cama são os barcos emborcados
Sua casa não tem paredes nem telhados.
Todos os dias Marta acorda morta de amores pelo mar
Acorda com sargaços nos cabelos
E hálito de sal...
E de conversa com o dia ela corre a praia
Vai colecionando ostras e búzios que são suas joias
Seus brincos são anzóis
E redes de pesca, seus lençóis
A espuma das ondas são suas bóias.
Se é noite,
Pondo fogo a remos
Faz fogueiras
Se tem fome
Come o que o vento arrasta
Concreto e asfalto são seus ais.
Marta não quer mais
Pisar o negro chão da cidade
Marta é mulher de idade
De saber o que quer.
Marta quer amar arrastões
Quer namorar navios
Quer marinas e pessoas marítimas
Quer peixes e paixões e naufrágios.
Todo bom dia
Marta dorme e acorda na maresia
Inundada, afogada em sua liberdade.
Quem pode entender Marta
E sua pouca lucidez?
Tão dona de si,
Lá da praia Marta grita:
"loucos são vocês!"
*